NASCE UMA CIDADE, O CAFÉ - O TRANSPORTE FLUVIAL - OS FAZENDEIROS

Nasce uma cidade
O café - O Transporte Fluvial - Os fazendeiros

A febre do ouro do ciclo bandeirantista chegava ao fim, para dar lugar ao desenvolvimento das inúmeras povoações e aldeias que formavam ao longo dos caminhos por ela percorridos.
Em torno da lavoura de café - principal riqueza do Brasil Império - passaram a se formar novas comunidades. Na região de Jahu, o surto de progresso era notável. A fertilidade do solo possibilitava todo tipo de agricultura, principalmente a cafeeira. Além disso, a facilidade de escoamento dos produtos via fluvial, no Porto de Barra Bonita, entusiasmou os fazendeiros e grandes proprietários de terras que, na região, investiram seus capitais, iniciando uma nova zona agrícola promovendo a derrubada de matas e o plantio do café, utilizando a maioria deles, o trabalho escravo e a mão de obra dos imigrantes europeus.
Assim é que, no meio de 1875, talvez por incentivo de seu pai José de Campos Salles, proprietário de terras na região desde 1864, José de Salles Leme, então residente em Campinas, uniu-se a seu irmão Domingos da Costa Salles e a seu tio e cunhado dr. Manoel Ferraz de Campos Salles (grande líder republicano e que mais tarde seria Presidente do Brasil), para formação de uma sociedade agrícola em 23 de maio de 1875, sob a denominação de Ferraz, Salles & Cia., a qual, a 15 de julho do mesmo ano, adquiriu de João Rodolpho Neubern e sua mulher, "uma parte do Sítio Água da Estiva", antiga propriedade de Joaquim José de Oliveira Paes, conforme consta da Escritura lavrada no Livro 6, fls. 38 vº a 40 do Primeiro Cartório de Notas de Jahu.
Para atender aos objetivos da sociedade, os irmãos José de Salles Leme e Domingos da Costa Salles, transferem-se para a Vila do Jahu. A 17 de junho de 1876, Domingos da Costa Salles retira-se da empresa e os sócios remanescentes José de Salles Leme e dr. Manoel Ferraz de Campos Salles formam, na mesma data, nova sociedade agrícola "para o cultivo de café ou qualquer planta, no Sítio Monte Belo", conforme especifica o contrato, que acrescenta ser o capital social constituído por 30 escravos, dez mil pés de café que José de Salles Leme possuía na Fazenda São José do Paraíso e demais benfeitorias existentes no Sítio Monte Belo, da extinta firma Ferraz, Salles & Cia. (Este sítio é o antigo Água da Estiva - agora Monte Belo).
Entretanto, a atuação de Nhonhô de Salles (como era conhecido José de Salles Leme), não se limitava à sua participação na empresa Ferraz & Salles. Possuidor de espírito dinâmico, empreendedor, além de verdadeira vocação para agricultura, foi adquirindo, em seu próprio nome, novas áreas de terras na região de Barra Bonita, destinando-as sempre à lavoura de café.
Em 1878 comprava de Joaquim e João Paes de Oliveira (filhos de Joaquim José de Oliveira Paes, grande latifundiário que aqui não permaneceu), mais 69 alqueires no sítio denominado Estiva. Nessa época já desfrutava de elevado conceito moral e financeiro, despontando, também como líder político.
No Porto da Barra Bonita, a Navegação Fluvial Ytuana possuía junto à foz do córrego, na beira do Rio Tietê, um barracão de madeira, para atender às necessidades do embarque e desembarque de café e outras mercadorias, bem como dos passageiros que viajavam em seus vapores.
O movimento era bastante expressivo, pois o volume de café produzido nas fazendas locais e da região do Jahu representava a quase totalidade dos despachos via Fluvial. Os comboios de carroças aqui permaneciam após o carregamento da carga nas lanchas, para o necessário descanso, já que demoravam quase meio dia na viagem. Quem chegava de viagem ou embarcava no vapor precisava descansar. O pessoal da navegação também.
Em razão de tais fatos, foram sendo erguidos precariamente alguns casebres e taperas nas imediações do barracão da "Ytuana" iniciando-se a povoação do lugar.
Por outro lado, grandes extensões de terras agrícolas eram loteadas e vendidas para novos entusiastas do café: Salvador de Toledo Piza e Irmão adquirem as terras do Capim Fino; Luiz Wolf compra as terras da futura "Ponte Alta", Joaquim Thomaz de Almeida Cardia torna-se proprietário da Fazenda Barra Bonita (depois Barreirinho) e Joaquim de Toledo Piza e Almeida Júnior adquire o Sítio Santo Antonio do Paraíso em 12 de outubro de 1879, que entre outras benfeitorias possuía: casa de morada, paiol, tulhas, senzalas, casa de colonos, 50.000 pés de café formados e novos, moinho tocado a água, monjolo, pastos fechados, etc..., sendo esta uma das poucas escrituras com detalhes
A sociedade Ferraz & Salles progredia. Arrendava terras, adquiria novas propriedades sempre no lugar genericamente denominado Barra Bonita - Sítio ou Fazenda Barra Bonita - como constam das escrituras.
Em 19 de agosto de 1880 arrendou "Uma sorte de terras" (***) de propriedade de Joaquim José de Oliveira Paes, pelo prazo de quatro anos. (***) sorte de terras - quantidade de terras não especificada.
O Contrato de arrendamento estipulava entre outras cláusulas, as seguintes: "autorização para tirarem lenha para a olaria dentro da área arrendada, a obrigatoriedade de venderem telhas pelo preço de custo ao cedente e, findo o prazo contratual, serem os arrendatários pagos pelas despesas com a construção das cercas que fizeram". Por este contrato comprova-se a tradição ceramista de Barra Bonita pois, já em 1880, existia olaria e se fabricavam telhas.
José de Salles Leme era muito rico e igualmente dotado de raras qualidades. Ousava olhar para o futuro com a coragem dos idealistas e a prudência dos experientes. Aquelas "terras rouxas" precisavam produzir riquezas, pois ainda eram um potencial inexplorado.
Com o pensamento voltado para o desenvolvimento da povoação, cujos contornos já se delineavam junto à foz do córrego, à margem do Rio Tietê, Nhonhô de Salles mandou construir uma casa de comércio e residência, a primeira do lugar, cujas amplas instalações, feitas de tijolos e coberta de telhas, serviriam para atender os lavradores e moradores do povoado, comercializando gêneros alimentícios, tecidos, ferragens, etc.
A localização daquele que seria o primeiro passo dos sonhos de quem pretendia formar uma cidade, supõe-se que obedeceu a princípios da lógica. Sendo os quarteirões de 100 x 100 metros, seria de 50 metros a distância da margem do córrego, pois este teria seu curso entre eles. Achado esse ponto, 300 metros distante da margem do Rio Tietê iriam garantir segurança, por ocasião das enchentes. No encontro desses pontos, haveria de se concretizarem os devaneios de um bravo: a fundação de uma cidade, a futura Barra Bonita.
Essa casa foi demolida em 1956. Pertenceu também aos pioneiros, Flauzino Pereira Ramos e Baptista Torcia e atualmente pertence aos descendentes deste último e à Mercantil Boca Rica.


Primeiro prédio da cidade - aqui nasceu Barra Bonita
Rua Primeira de Março esquina com a Salvador de Toledo


Terminada a construção, partiu Nhonhô de Salles em busca de um "gerente" para o seu armazém: Viajou para Poços de Caldas, e lá ficou conhecendo João Baptista Pompeu, que trabalhava em casa comercial semelhante a que ele iria montar. Expôs seus planos e convidou-o para trabalhar na instalação e administração do futuro estabelecimento. João Baptista Pompeu aceitou o convite, e, mudando de cidade, mudou, também o rumo de sua vida, para figurar na história de Barra Bonita como um dos seus fundadores. Aqui chegando, João Baptista Pompeu integrou-se rapidamente à comunidade e seus representantes mais destacados. Fez daquela casa de comércio o ponto de encontro de autoridades, fazendeiros, viajantes, lavradores e de todos os moradores de Vila.

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